Breves Notas Sobre o Jazz

Por:

Ney Fernandes

 

Nestas notas breves, propomo-nos ajudar a compreender o Jazz, não pela sua história, mas, sim, pela música em si, buscando penetrar o seu âmago e ajudar a depreender o que o distingue das outras músicas.

 

Convenhamos que o Jazz é uma palavra com significados diversos e incorpora um leque variadíssimos de outros géneros musicais tais como Blues ao Dixieland, ao Chaleston, ao swing, ao Boogie-Woogie, ao Bop, ao Cool, ao Mambo (ritmo afro-cubano), enfim, tantos outros estilos.

 

A individualidade no Jazz é uma vertente essencial e incontornável, o que faz com que os instrumentistas brinquem com as notas, permitindo-lhes alcançar momentos de êxtase.

 

Muitas vezes ficamos com a percepção de que o  Jazz quando é trazido à tona, para apreciação, os amigos se esquivam, considerando-o uma música pobre e rudimentar.

 

Tais argumentos são falíveis na medida em que toda a música tem origens em músicas folclóricas, por excelência, rudimentares e pobres. As músicas modernas que, frequentemente, ouvimos e gostamos, são puras estilizações.

 

Aliado a tudo isto está o problema de no Jazz se atribuir aos instrumentistas uma importância capital, quando, historicamente, a maior dignidade vai para o compositor. Repare-se que o instrumentista, no Jazz, é ele próprio o compositor, o que lhe atribui oportunidades criadoras e, consequentemente, uma maior dignidade.

 

O Jazz será barulhento, como alguns defendem? Categoricamente, não!!! A música jazz é, frequentemente, deleitosa e, se nos deixarmos envolver nela, somos levados, mentalmente, à uma viagem encantadora e indescritível. O epíteto barulhento deve-se, com certeza, ao facto de se ouvir o Jazz em espaços fechados e reduzidos e, sobretudo, quando presenciamos, nessas condições, orquestras de metais.

 

Dizem-me alguns que não, mas, pessoalmente, consideramos o Jazz uma arte de extrema solidez e encanto.

 

O problema de fundo, é que já nos habituámos à música melodicamente alicerçada em escalas naturais, pelo que qualquer alteração de forma perceptível a estas últimas, desencadeiam em nós objecções.

 

Se não vejamos: A escala maior natural que todos nós entoamos desde criança, no nosso primeiro contacto com a música, é assim constituída:

 

C  – D – E – F – G –  A – B – C .

Dó - ré - mi - fá - sol - lá - si – dó

 

Mas o Jazz, recorre à essa mesma escala introduzindo 3 (três) alterações, a ponto de passar a usufruir duma escala especial, a saber:

 

           C    D    Eb     F    Gb    A    Bb    D.

 

As notas bemolizadas são chamadas de Blue notes (Notas de blue) e são recursos importantes na escala descendente do Jazz.

 

Contudo, convém realçarmos que essa escala especial do jazz , só é usada melodicamente. No que se refere a harmonia, as notas alteradas são restabelecidas ao seu estado natural, o que provoca, naturalmente, dissonâncias entre a linha melódica e os acordes.

 

Caro leitor, se tiveres à mão um violão, tente percorrer as duas escalas simultaneamente e será, por certo, surpreendido com o que acabamos de expor.

 

Notará uma presença de dissonâncias que constituem, verdadeiramente, a sonoridade do Jazz, aliada ao quarto de tom que o pianista, incessantemente, estará à procura. O quarto de tom, a título de informação, vem da África. Trata-se de obter uma nota presente entre o Eb e o E natural, para o caso do piano, aproximando-se-lhe duma entoação presente em cânticos negros. Já a voz humana, o saxofone, etc, conseguem produzir o quarto de tom.

 

Importa contudo, realçar, que o elemento rítmico é, sobremaneira, mais importante do que a melodia. É o ritmo que nos faz conectar ao Jazz, decorrendo daí, o TEMPO que se mantém inalterável desde o início até ao fim de um excerto (trecho), com dois ou três tempos por compasso, não se alterando o andamento ou a métrica.

 

A síncope (colocação ou supressão) de um tempo forte, como elemento de choque e de surpresa, obriga o corpo a reagir fisicamente pela (des)compensação , tudo à volta daquilo esperaríamos acontecer na acentuação ou desacentuação dos tempos fortes esperados.

 

Mas o Jazz, não seria o produto que é sem os seus timbres peculiares, numa acentuada busca de imitação da voz dos negros, quando cantam:

Trompete com surdina;  Saxofone com ou sem vibrato; Trombone com surdina “pluger”; Flauta; Clarinete; Bongós “afro-cubanos”; Maracas; Piano; Vibrafone; Contrabaixo; Bateria, Guitarras; etc, etc.

 

Num ambiente de jazz, qualquer  pintor que se dispusesse  a produzir uma obra, esta seria, inevitavelmente, multicolor, de tonalidades fortes, bem delineadas e harmonizadas,  a condizer com a cultura africana.

 

Assim, com estas breves considerações, esperamos ter proporcionado alguns elementos básicos, susceptíveis de ajudarem a ouvir e apreciar o jazz de uma forma mais consciente. Evitamos abordar questões, demasiadamente, técnico-musicais, prometendo, contudo, voltar ao assunto após o tempo de assimilação, deste artigo, por parte dos leigos em matéria musical.

 

Em 26-08-2011